Praticamente normal

Sou dos que, apesar de gostar muito de televisão, não paga TV por assinatura há anos. Lembro que não foram poucas as vezes em que me vi zapeando entre uma centena de canais para não escolher nenhum e reclamar de eternas reprises e programas com a mesma cara. (Tédio e TV independe da quantidade de canais). Mas, junto a essa sensação os custos para se ter alguns canais, coloco tudo na balança e ainda fico com a minha junção de youtube, dvds, torrents, downloads e netflix com senha de amigos pra ir fazendo a minha televisãozinha privada.

Enfim, com isso, vejo com relativo atraso algumas dessas produções das emissoras dos Estados Unidos (que bem são o que de melhor se produz em termos de dramaturgia televisiva nos últimos anos) ou simplesmente não vejo por puro desinteresse por formatos e histórias. Não vi Glee, mas vi a primeira temporada de American Horror Story e achei fantástica. E achei engraçado encontrar o mesmo nome por trás dessas produções na direção de The Normal Heart, exibido este ano pela HBO.

the_normal_heart_2Ryan Murphy, o diretor, eu conhecia de Correndo com Tesouras, filme que vi e amei de cara. Mas a sensação não foi a mesma ao ver o telefilme com Mark Ruffalo, Julia Roberts, Alfred Molina e outros.

The Normal Heart parece bem-intencionado em sua estrutura essencialmente didática. Trata do começo da epidemia de HIV/AIDS entre 1981 e 1984, um período marcado pela negligência de políticos diante do problema de saúde que naquele momento afetava principalmente a comunidade gay. No clima conservador da década de Ronald Reagan, a AIDS seria implacável. O “câncer gay”, como era chamado, não mereceria atenção pelo menos até 1985, quando o presidente dos Estados Unidos falou publicamente pela primeira vez na doença. É de 1985, aliás, a peça autobiográfica de Larry Kramer, que serviu de base ao roteiro, bem como outro telefilme famoso: Aids: aconteceu comigo (nome sensacionalista para o original An early frost e que aqui no Brasil passava sempre no SBT… Quem lembra?).

A trilha sonora nos joga direto naquela mítica Nova York setentista que não queria deixar a disco music morrer: Sylvester, Salsoul Orchestra, (a óbvia) Gloria Gaynor, Tom Tom Club, Roxy Music e Patrice Rushen compõem o clima. Nessa cidade, o ativista e escritor Ned Weeks (interpretado por Mark Ruffalo) se debate diante do preconceito das autoridades e da apatia da “política gay” (que então se constituía como sinônimo de hedonismo).

Matt Bonner The Normal Heart HBONed é um judeu norte-americano, de formação universitária, que vive muito bem (às custas do dinheiro da família, diga-se!). Limpinho (leia-se, pouco à vontade com o ambiente libertário de então) e praticamente normal. Só que gay. Apaixona-se por Felix (Matt Bommer), jornalista do New York Times que cobre o mundo cultural gay sem se dizer abertamente a palavra gay. Ned possui uma força e consciência que fazem dele um cara chato que nem todo mundo suporta. Sempre exaltado, dono de verdades e certezas, imbuído de seu idealismo, o personagem principal acredita mesmo que não erra nunca – e o filme em certa medida nos faz acreditar nisso – e segue em sua tentativa de criar “uma consciência política do armário” em tempos de pânico social.

Quando Felix mostra uma primeira manifestação do sarcoma de Kaposi, é a previsibilidade que impede a imersão e a futura catarse emotiva com o filme. Ok, já vimos isso antes, eu penso. Mas ao mesmo tempo não esqueço de uma geração que não foi necessariamente assombrada por esse fantasma que fazia os gays realmente serem doentes em potencial (para muitos, a sensação era de que a AIDS era inexorável na trajetória gay). E, sim, claro que é possível se comover em diversos momentos de The Normal Heart, mas fica difícil não apontar o quanto o filme perde ao ser conduzido basicamente pela obstinação desse personagem principal, sem um espaço pra dúvida, para a possibilidade do erro, para aquela sensação de confusão diante de um movimento da História que não se sabe aonde vai dar.

Também há outros personagens interessantes em meio às contundências (e aos exageros) que esperamos de uma narrativa sobre esse período. As contundências ficam por conta das histórias mais tristes de morte e abandono. Os exageros talvez existam por tentar definir um pouco o pânico da época diante da doença – com o problema de resvalar na caracterização dos doentes como ‘zumbis’ (também já não vimos essa metáfora antes?). Nesse caso, a estética escolhida é reveladora da elaboração atual desse passado. E mais uma vez o que se vê é só uma representação da morte e da doença – haveria outras possíveis? Que outras experiências poderiam macular esse quadro?

thenormalheartA chama de certeza que alenta os personagens numa era incerta talvez seja o ponto que incomoda no filme. Estranho que mesmo o desconhecimento da doutora Emma (Julia Roberts), que parece lutar sozinha contra a fúria da epidemia, não consiga abalar nem um pouco o caminho trilhado por Ned (confiante e insistente em usar a homossexualidade não assumida de políticos e autoridades como arma). Ao contrário, no momento de maior drama, a doutora assume a narrativa de Ned como a justificativa para o descaso das autoridades.

Politica de gabinete e política de armário se confundem aqui – especialmente quando se fala do prefeito de Nova York, Ed Koch, como um gay enrustido e preocupado com o moralismo. Não deixa de chamar a atenção o fato de que, em 2013, quando Ed Koch morreu, o New York Times tenha se visto obrigado a rever seu obituário, que não mencionava a conivência diante da epidemia de AIDS no começo da década de 1980. Koch, aliás,  já virou uma figura importante da cultura sexual dos Estados Unidos: também foi personagem em Shortbus (2006), filme de John Cameron Mitchell, o perfeito contraponto estético, moral e político a The Normal Heart. O filme de Ryan Murphy pode funcionar como uma forma de impedir que se esqueça desse momento, mas não tem a autocrítica que Shortbus já carrega no título (“shortbus” é o ônibus escolar dos desajustados). Em The Normal Heart, por exemplo, ainda se luta e se ama tendo como pano de fundo a bandeira estadunidense ou a estátua da liberdade (quantas vezes vimos isso mesmo?).

Consciente de seu bom intento, The Normal Heart pode envolver quem pouco sabe sobre o período, ou quem, ao voltar àquele mundo que se desintegrava, revive a perda de amigos. Mas seus personagens não sobrevivem aos créditos. Ainda que tivessem uma verdade ativa lá em 1985, na peça de Kramer (que eu não tenho ideia de como foi vista, montada e recebida, mas há coisas legais a respeito), vistos hoje, parecem uma criação ingênua por carregarem tantas certezas históricas. Não deixa de ser sintomática, porém, essa reinterpretação ‘certinha’ de um período que para os religiosos-moralistas de plantão ainda não acabou.

+ MAIS +

Não posso deixar de evidenciar o meu lugar de fala na percepção do filme, mas, pra quem se interessar, há uma entrevista na revista Vulture com a escritora e ativista Sarah Schulman, que trata um pouco da recepção da peça e da atuação de Larry Kramer naquele momento em Nova York e numa percepção bem diversa da exposta aqui.

A “Vênus Platinada” em 3×4

Se você procurar pela expressão “Vênus Platinada” na internet, com certeza vai achar a referência ao filme Harlow, de 1965, dirigido por Gordon Douglas. A sinopse anuncia a história da rápida ascensão da jovem atriz e femme fatale Jean Harlow, que logo é vítima de seus próprios problemas emocionais.

Entretanto, “Vênus Platinada” também é epíteto da Rede Globo. Dizem que o nome se referia ao antigo prédio da emissora, de fachada prateada. Não sei quem cunhou o termo, mas eu o conheci pelos textos de Otto Lara Resende, um dos nossos maiores e injustiçados cronistas. Não sei se quem batizou assim a emissora sabia do filme Harlow, mas não deixa de ser engraçada a associação com a sinopse…

Mas essa divagação serve apenas como pretexto para divulgar também por aqui um pequeno retrato que fiz da trajetória da Rede Globo. O texto está publicado na edição comemorativa de um ano da Revista Geni e reflete um pouco do que venho pesquisando sobre TV. Também é uma oportunidade de defender algumas ideias sobre a trajetória da Globo e seu modo de colar-se ao cotidiano nacional desde – justamente – 1965.

Trata-se, evidentemente, de um breve perfil e não de uma história plena de detalhes, que isso seria trabalho pra um livrão. Também não se trata de uma história ideológica da Rede Globo – embora ela própria em sua trajetória não seja inseparável das ideologias. E há diversos trabalhos acadêmicos e jornalísticos sobre a emissora disponíveis por aí e que merecem ser lidos (e também deveriam ser revistos e questionados, por que não?). Eu diria que o que tentei foi fazer um retrato 3×4 da emissora que amamos odiar.

Clica aí pra ler o texto.

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Geração Brasil e a cultura televisiva

Tenho visto com relativo interesse a nova novela das sete, Geração Brasil, escrita por Felipe Miguez e Izabel de Oliveira. Vi bem pouco da trama que os dois escreveram antes, Cheias de Charme, que pegava rabeira numa moda de falar de uma tal “nova classe C” (que ninguém até hoje sabe exatamente o que é).

Logo no começo, Geração Brasil veio com ares tecnológicos, flertando com o mundo da internet ao trazer como protagonista o dono de uma grande empresa de tecnologia, Jonas Marra (Murilo Benício), um brasileiro que deixou o país (talvez na era Collor?) para ganhar o mundo com seu “Marra Phone” (não é preciso mencionar Steve Jobs aqui né?). Da estreia, no começo de maio, até a semana passada, o que se viu foi um longo flashback para mostrar a trajetória de personagens que participam de um reality promovido por Jonas em sua volta ao Brasil. Cheio de segredos, o protagonista vai oscilando, com ares de vilão e mocinho. A relação complicada com a mãe (Renata Sorrah), um relacionamento amoroso do passado, um envelope com uma informação confidencial são alguns dos mistérios que envolvem a personagem.

jonas-MarraPois lá se foi um mês de novela e não vejo nenhum comentário interessante sobre a novela… Às vezes acho graça do modo como pessoas pagas para escrever sobre TV se esmeram no exercício da mera constatação. Se está difícil pro jornalismo em geral, o que dizer da crítica televisiva… Claro que falar de uma novela exige também uma convivência – daí a dificuldade de se criticar com base nos primeiros capítulos. Mas há uma queda evidente para o modo fácil de avaliar que esconde às vezes os méritos de algumas produções, ou mesmo o que ela representa na grade de programação em relação ao que veio antes dela.

Neste quase um mês no ar, o que Geração Brasil tem de mais divertido é modo como incorpora na sua narrativa referências da cultura pop e televisiva do presente e do passado. Se o caminho não é exatamente novo, o modo é bem bacana. Alguns exemplos: Brian (Lázaro Ramos) vive a recitar músicas pop como mantra ou oração; Pâmela Parker (Claudia Abreu) é uma ex-atriz de seriado; Verônica (Taís Araújo) sofre com o estigma de eterna garota propaganda de uma rede de lojas populares; pandolfoa Parker TV e seu repórter exagerado (feito pelo ótimo Rodrigo Pandolfo) são onipresentes na vida dos personagens e o reality show que os une guarda a marca de diversos programas que conhecemos. Junte a isso, clichês televisivos como a entonação, a afetação de alguns tipos, e o que temos é uma novela que parece dialogar mesmo é com a nossa paisagem televisiva e não com a internet.

Não é que as “novas mídias” (eita, que nome!) não tenham importância para a trama e para os personagens, mas por enquanto elas disputam com essas referências televisivas que caracterizam mais fortemente alguns dos personagens que mais se destacam. Eu quase me arriscaria a dizer que há muito de ‘cosmético’ no modo como se falou de internet ou de games até o momento.

De início, pensei que recairia sobre Geração Brasil a maldição que acompanha novelas dedicadas à tecnologia. De Transas e Caretas (1984) a Tempos Modernos (2010), passando por O Amor está no Ar (1997), basta haver um robô ou elemento tecnológico/científico pra que se relembre o “fracasso de audiência” dessas produções metidas a ousadas.

O problema é que televisão não deveria ser entendida apenas em termos de números. Acho um saco esse jornalismo e esses blogueiros dedicados a acompanhar Ibope. Ora! Quem gosta disso é anunciante! Telespectador não lembra de números, lembra de histórias. Ainda que elas sejam um flop. (Aliás, novelas fracassadas parecem revelar muito sobre gostos, anseios, opiniões que as que se fixam como sucesso).

Fracasso ou não, o fato é que Geração Brasil parece concentrar alguns elementos que já vêm sendo desenvolvidos em outras novelas nesses tempos. Especialmente a parte estética (abertura, logotipo, cenários, figurinos e visual dos personagens) parece concentrar signos de diversas outras tramas. Vejo, porém, que a novela guarda alguns outros pontos que chamam a atenção e que fazem dela algo um pouco diferente dentro do convencional. De cara, destaco a convivência de idiomas: inglês e espanhol pra todo lado. E não há didatismo, o que é muito bom. Há legendas constantes para as falas de Maria Vergara (vivida com afetação gostosa por Débora Nascimento). Quando se viu isso ao longo de diversos capítulos numa novela global? As referências norte-americanas tomam aqui o lugar daquele popular domesticado de Cheias de Charme. A introdução de uma linguagem visual que lembra outros gêneros (como a referência a programas de perguntas e respostas, a inserção frequente de legendas e créditos etc.) também chama atenção.

O que é uma pena é ela concentrar também elementos que considero negativos da cultura televisiva recente (e aqui estou falando da TV aberta brasileira, pois que as produções estrangeiras mostram uma diversidade maior). Em particular, essa onipresença de uma dramaturgia juvenil. Às vezes, a trama estaciona nos personagens jovens e pouco expressivos ou com atores que podem render mais ao longo da novela (como a menção à bipolaridade do personagem de Samuel Vieira, por exemplo).

luis-miranda-dorothy-bensonPuxa, Geração Brasil tem ótimos atores para valorizar! Ainda espero um destaque maior para Renata Sorrah e Mônica Torres (ambas parecem bastante burocráticas nas atuações) e principalmente para Luís Miranda, que interpreta a trans* Dorothy Benson. Sua melhor cena até agora foi quando se via num programa de TV dublada por um homem… Oh, good! Luís e a personagem merecem texto e não só a afetação e os gritinhos, my gosh!

Três momentos de Jair Rodrigues

Para noooossa alegria

Sucumbindo à cultura dos memes, jamais me esqueço de Jair Rodrigues refazendo o “Para nossa alegria” com Jairzinho e Luciana Mello:

 

"Quando não tem samba, tem desilusão"

Na Rede OM, Jair Rodrigues apresentava um programa musical chamado Ser…Tão brasileiro, lá pra 1993. Os nomes podem ser pouco familiares. A Rede OM ganhou destaque com uma programação televisiva local, no Paraná, e nos anos 1990 teve projeção nacional (ao se unir à TV Gazeta de São Paulo) – mas também pelas relações entre o dono, José Carlos Martinez, e PC Farias (por conta disso, a OM logo mudaria o nome para CNT).

É um trecho desse programa o vídeo a seguir, com a participação da cantora Claudya, cantando “É” de Gonzaguinha. Depois, os dois cantam trechinhos de “O Morro Não Tem Vez” (chega a me arrepiar essa entrada da voz do Jair), “Vou Andar por Aí” (música de Newton Chaves), “Acender as Velas” (aquele samba triste de Zé Keti) e “Só que deram zero pro Bedeu” (Luís Vagner). Que coisa bonita!

 

"Vou cantar noutro lugar"

Em 1965 Jair comandou com Elis Regina O Fino da Bossa na Record. O programa alentando a forte presença da música na TV naqueles anos sessenta, que tinha seu ápice nos festivais promovidos pelas emissoras.

No festival de 1966, ele defendeu a música mais linda do Geraldo Vandré (em parceria com Théo de Barros). Empatou com “A Banda”, a música chatinha e miguxa do Chico Buarque em nada parecida com a emoção crescente que Jair colocou em sua interpretação. Dizem que Chico forçou o empate. Dizem que ambas são muito reveladoras daquele momento da música e da cultura brasileira. Talvez seja – o que não me impede de achar ainda que quem venceu mesmo foi “Disparada”, num daqueles momentos de transbordamentos característicos dos festivais:

Obrigado, Jair! Obrigado.

 

“Como vai o mundo, João?”

Morre linchada uma moça com 33 anos e de sobrenome Jesus – ah, ironia!, companheira de história, tão presente. Linchada talvez por gente de bem – como diz aquela dublê de jornalista que não ouso dizer o nome. Taí a coisa que mais tem me afetado nos últimos tempos, com uma força tal que quase posso sentir em meu corpo os ataques vindos de pessoas de bem. Golpes, braços, pedaços de madeira. Sinto meu corpo sendo arrastado e arremessado de uma ponte. Sou Fabiane Maria de Jesus.

Violência, fúria cotidiana, sanha de sangue. Cultura de morte. A percepção diária de uma República de Assassinos (como bem disse Aguinaldo Silva numa época em que parecia querer entender essas absurdidades brasileiras) tem sido mais e mais dolorida. Me alieno das redes na tentativa de uma certa limpeza de sensações, tento ver a nova novela das sete, mas tudo isso não deixa esquecer o que leio no Globo: “Não pude me despedir da minha mulher”. Dói.

* * *

Rosa-do-Povo_Martinho-da-VilaPonho um disco do Martinho da Vila, o sensacional Rosa do Povo, 1976. Há metáforas e perguntas doloridas na faixa 2 do lado A, que ele canta com João Nogueira.

Por falar em mundo, João,
Como vai o mundo, João?
Esse nosso mundo, João,
Que é de todo mundo, João?

 

E de repente eu sinto uma vontade doida de chorar. Um choro dolorido, num soluço só, sem utopia, sem rosa, por pelo menos um minuto, sem esperança.

 

 

Absurdos da irrealidade cotidiana

Aquela história de que “a arte imita a vida” é às vezes uma grande e chata teoria. Por que ficar reduzido a só esse reflexo entre dois mundos que são lá bem autônomos? Senão, como explicar situações que são quase ficcionais de tão doidas (doídas) na realidade?

Porque tem dia que a vida bem parece novela. Peguem esse caso do sr. Henry Maksoud, dono do famoso hotel na região da Paulista. Não é um roteiro de novela de Walcyr Carrasco?

Tem absurdo que só parece possível em obras do Kafka. Ou do Rubem Fonseca. Pense no caso do corpo esquartejado em São Paulo. Uma cabeça encontrada em saco de lixo na Praça da Sé, dias depois dos primeiros pedaços… É ou não é obra de ficção?

O fato me fez reviver o conto “A Cabeça”, de Luiz Vilela. Nele, o absurdo, tão assustadoramente próximo, descamba para o risinho final e deflagra a nossa cumplicidade com um cotidiano desumano – e real.

O conto foi brilhantemente interpretado por Giulia Gam na série Contos da Meia-Noite, uma das melhores coisas que a TV Cultura fez nos anos 2000 e que vem reapresentando de tempos em tempos.

 

Sônia Braga – e novo canal no YouTube!

Estou inaugurando um canal do Óperas de Sabão pra postar alguns vídeos e convido a todos para se inscreverem lá e receberem as atualizações. A intenção é postar e repostar cenas que podem ajudar a compor um repertório todo próprio do blog.

canal YT

 

Pra começar, aproveito a onda Dancin’ Days pra disponibilizar alguns vídeos e entrevistas de Sônia Braga, feitas nos anos 1990, como as do Metrópolis e de um dos meus programas preferidos dos anos 90, Vitrine:

Numa matéria do Fantástico, Sônia recebe fotos antigas que julgava perdidas:

E, por fim, uma entrevista muito boa de Sônia a Marília Gabriela, que deve ser de 1995 ou 1996. Nela, a atriz fala da carreira fora do país, da situação das atrizes diante do machismo da indústria cinematográfica, da possibilidade de remake de Dancin’ Days. Sônia conta ainda dos problemas que enfrentou quando do contrato com o SBT para atuar na novela Antônio Alves Taxista. Num dos momentos da entrevista, ela critica a produção e o roteiro da trama (com frases como “Mereço mais que uma bandeja”. Oi?). Ah, cuidando do roteiro… Walcyr Carrasco!

 

Quebrando o silêncio

Afastado daqui e absorvido por projetos diferentes não necessariamente complementares, ainda tenho sobrevivido aqui e ali nesse mundo de linguagem que é a internet. Ando sem tanto tempo pra falar e refletir sobre TV e com isso o blog acabou virando uma terra devastada, com notícias das absurdidades na paisagem entre telas.

É que os compromissos acadêmicos e profissionais não dão tempo pra manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo. Tanto assim que, apesar de meu entusiamo inicial com duas novelas no fim do ano passado, acabei abandonando a empreitada de acompanhar capítulo a capítulo em nome de uma dedicação a leituras. E não tive tempo nem senso de oportunidade pra falar de beijo gay e tacar pedra em Walcyr Carrasco por ter feito a novela mais misógina dos últimos tempos. A internet, a TV, a vida tem dessas coisas: é preciso senso de oportunidade, é preciso trabalhar com a noção do imediato. E isso ainda é um problema pra mim, que ando com uma impressão diferente do tempo…

Mas como não quero deixar totalmente abandonado o espaço, faço um convite à leitura de algumas colaborações minhas.

dancing-days-05 por Joel Maia

 

Com a exibição de Dancin’ Days no canal Viva, relembro textinho simples, ingênuo que escrevi quando vi o boxe lançado em fins de 2011: “Retrato de época: Dancin’ Days fala de moda, música e noite”. Certeza que ainda se vai falar muito dessa novela de Gilberto Braga, de discoteca, de Sônia Braga, de desbunde setentista. Quem sabe não aproveito o momento?

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No começo do ano um dos filmes que mais me arrebatou foi o de Abdellatif Kechiche, Azul é a cor mais quente. Escrevi pra Revista Geni #8 o texto “Ouro sobre azul”, em que avalio um ponto que chamou minha atenção no filme: o fato de ele se estruturar quase que inteiramente em torno da problemática da representação da mulher. Afinal, que mulher é essa que os homens desenham? O filme de Kechiche vai muito além e nos faz pensar sobre tantas outras coisas: afeto, engajamento, prazer, pertencimento, identidade… É um filme pra se descobrir e redescobrir. Basta ter olhos livres de interpretações prontas.

TEMPORADA

 

Na mesma edição da revista, relembrei um curta metragem dos anos 80: Temporada de Caça, de Rita Moreira. O filme é interessante pra se pensar como o fantasma da homofobia não é recente e deve ser historicizado, entendido como parte dessa nossa cultura machista e violenta. Por isso mesmo que acho que se “Calar diante do absurdo é fazer com que ele continue a existir”.

Que a palavra seja a arma de todos nós!

Paisagem entre telas

My dearest,

(nunca resisto à afetação desse vocativo!) te escrevo deste lugar onde passo quarenta horas semanais, sem que possa às vezes enxergar o céu ou saber do clima lá fora. Sou livre nas poucas horas que passo fora daqui, mas você sabe que há tantas outras coisas a fazer: amar, cozinhar, comer, ler, dormir, cuidar das minhas gatas. (Por causa da claustrofobia, trabalharia na varanda, mas não tenho muita escolha a não ser achar que a tela do computador pode ser uma janela.)

Aproveito meu horário de almoço pra te descrever um pouco da paisagem que vejo desta tela. 2013, você sabe, não está fácil. Eu tinha dito que seria ruim comentar algumas coisas, mas você disse que seria um exercício escrever uma carta depois de tanto tempo – e pra alguém tão próximo.  Aceitei o desafio, mesmo sabendo que a minha caligrafia está piorando a cada dia. (Há muito que rabisco poucas anotações que só eu entendo.)

Tou naquela fase que com o fim do ano vem a melancolia pré-festas, sabe? A depressão ganha contorno quando a decoração de inverno começa a surgir em pleno verão nas janelas dos prédios, nos shoppings, nas avenidas e logo na TV também! Então, claro que não falarei de coisas boas…

Engraçado que antes eu conseguia passar bem por essa sensação, mas hoje estou à flor da pele, como diz aquela música. “Eu ando tão down”. Passo tanto tempo diante das nossas telas cotidianas, nossas janelas para o mundo, e elas só têm me dado uma sensação ruim (parece que tou na abertura daquela novela de 1992, lembra?). Pulo da internet pra TV e da TV pra internet e tou chegando à conclusão (romântica?) de que o melhor às vezes é não saber, não entender, não interpretar.

É tanta misoginia, racismo, as fobias mais loucas, a violência e os preconceitos mais naturalizados que “não está sendo fácil”, como diria nossa querida Kátia. A hostilidade é tanta e invade as telas. Há dias em que quero chorar, mas não consigo. Estou seco, duro. Ontem botei um música (“O cavaleiro e os moinhos”, sabe?) e o choro veio. Não é depressão, não, acredite! É só uma fresta aberta pro mundo, mas que permite que toda a sorte de balas, furos, objetos pontiagudos e cortantes passem por ali. Os discursos são muitos e se embaralham ao ponto de produzir aquela sensação de confusão mental que comentei uma vez.

Dia desses, a televisão ligada numa sala da academia mostrava o caso do policial que atirou num ladrão de moto enquanto o dono da moto filmava. Um professor conversava com as pessoas e se dirigiu a mim: “Sabe, sou a favor da pena de morte”. “Mas eu não perguntei nada!”, tive vontade de dizer, porém fiquei quieto. “E tem que ter mais polícia mesmo!”. cadeira eletricaQue polícia? A mesma que matou Amarildo? A mesma que mata diariamente e vê o genocídio de uma parcela da sociedade como sua atividade normal? “Sabe, a sociedade precisa de segurança”. Que sociedade?  A mesma que aceita passivamente a permanência de hábitos ditatoriais na democracia? A mesma que levou o filho de Amarildo pra fazer editorial de moda? Eu podia ter estendido a conversa, mas me calei aí.

Que sociedade? – eu me perguntei.

E continuei me perguntando todos esses dias, enquanto flashes desta paisagem de 2013 foram surgindo quase que instantaneamente. Como a linguagem de videoclipe, misturo coisas e tempos deste ano tão longo (você melhor que eu sabe o quanto a memória é de natureza quântica).

Lembro nossa conversa num bar sobre a sociedade que glorifica transgressores higienizados: é Renato Russo higienizado, é Cazuza higienizado (e veja que ironia: o poetinha do Leblon, aquele cuja mãe não deixa que se mostre sua cara, agora está deificado no bairro podre de São Paulo, dividindo sua atmosfera de ídolo com os que inda vagueiam pelas ruas da Luz feito zumbis, porque a higienização do bairro ainda não se completou). E agora teve também os próceres da MPB querendo biografias limpinhas – alguns devem ter medo de que passem a limpo a história (higiênica) do que se convencionou chamar de “música popular brasileira” (que foi se construindo à custa de diminuir tudo o que não se aproximava dela – tachado então de “cafona” e “popularesco”). Êta historiazinha de poderes a da nossa cultura, hein? Todos clamando por privacidade, mas recebendo em casa os fotógrafos da Caras.

StampaTodos clamam por liberdade de expressão – desde que seja pra livrar sua própria liberdade, claro! Até porque liberdade pra oprimir com palavras continua a todo vapor na TV – ou você achou graça daquele pseudo-humorista que faz pseudopiadas ridicularizando pessoas em cadeia nacional? Você sabe que não gosto de falar alguns nomes (que as palavras têm poder e podem atrair coisas ruins), mas o tal do Danilo Gentilli continua achando legal fazer isso. E se alguém reclama ou se ofende, é por conta da chatice do “politicamente correto”. Daí a gente pensa: que sociedade podre a que fica e aceita o lado de garotinhos mimados e de discurso raso como este, não? Gente que aceita ofensa, sob a desculpa de ser “engraçada” quero longe de mim, por favor.

GENDERDeve ser a mesma gente que ganha pra ver e criticar TV, mas que insiste em chamar tudo de “entretenimento”, quando esse “entreter” se confunde com “oprimir”. Eu falei algumas vezes do ódio que tenho pela novela ironicamente chamada “Amor à Vida“? Se retrocesso é entretenimento, quero morrer! Mulher ali é gorda, é piranha. Não consigo me divertir com uma novela que só subestima as mulheres e assume a ordem machista como natural. Engraçado é que diante dela até o feminismo digestivo do Gilberto Braga na reprise de Água Viva passa a ser um bálsamo! Fora a vergonha alheia que senti quando as globais da novela-das-oito-que-passa-às-nove protestaram contra o mensalão. Mas o pior estava por vir, meu amigo: uma delas usou a lógica do protesto para fazer propaganda de joias…

Protesto, aliás, é o que não falta nesta “paisagem entre telas”, meu caro! Mas só vale como o protesto o que é chancelado pela grande mídia. Senão, é van-da-lis-mo. A palavra mais amada da imprensa em 2013! Porque só vale o protesto pacífico, ou seja, invisível.

noticiasNa TV pública, na TV privada, só se vê criminalização de movimentos sociais. Tanto que um comentarista da Globonews saiu pela porta e não voltou mais porque não concordava com a postura da emissora diante das manifestações… Mas claro que isso não é importante e não chama a atenção quando o jornalismo de todo dia usa os protestos como forma de criar medo e desestabilização. E estão fortes em seus comentadores: Pondé e Marco Antônio Villa são as ‘mentes brilhantes’ a guiar os telespectadores do Jornal da Cultura, por exemplo. No Jornal da Gazeta, Maria Lydia Flandoli (que adora entrevistar coronéis) sugeriu dia desses que a PM de São Paulo tem sido comedida (ou será “carinhosa”?) com vândalos e baderneiros. Parece, aliás, que o jornalismo só subsiste em termos de opinião – tanto que a Folha de S.Paulo deve ser recordista em colunistas (e recentemente contratou aquele Reinaldo Azevedo, o mesmo que as pessoas acham inteligente só porque vocifera em capslock e fonte colorida no blog da revista mais famosa e mais canalha do país).

talk bang

Você não acha, amigo, que informação e opinião demais devem levar à loucura?

“Que tempos são esses?”, você me perguntou outro dia e eu não pude evitar faróis baixos e um comentário pessimista sobre 2014.

Você me recrimina, diz que devo pensar melhor, mas não consigo não ver um mundo perverso, um mundo do avesso em que a reação do oprimido e ação do opressor são colocados na mesma balança. Veja: um garoto de 17 anos morador da zona norte de São Paulo foi morto pela PM; na zona sul, um cabeleireiro foi morto pela PM. (Ainda bem que você não viu que a solidariedade de nossa presidenta foi seletiva: dia desses ficou com dó de um coronel que apanhou numa manifestação, mas não ficou com pena de nenhum morto pela PM nesses tempos…) Daí que quem se revoltou diante desses crimes foi reduzido à categoria de vândalo e baderneiro. Ainda bem que você não viu também o aprendiz de fascistinha Rodrigo Bocardi do Bom Dia SP criminalizando qualquer movimento…

human right

Daí eu faço a você uma pergunta difícil que precisa ser colocada também aos zumbis que seguem sua vida de resignação covarde: Por que uma violência é permitida e a violência-resposta do oprimido não? Por que uma morte que não seja no Alto de Pinheiros não chega a comover? Por que Beagles comovem muito mais?

A resposta, meu amigo, é que estamos doentes. Estamos todos doentes.

Um abraço pra você,

Pepa

P.S.: Desculpa terminar assim, mas o papel já estava no fim e resolvi interromper pra botar isso no correio ainda hoje. Te mando no envelope umas imagens de pôsteres que achei por aí. Sei que às vezes algo visual comunica mais que palavras (Minha limitação é não saber desenhar um mundo futuro!)

A arte de enojar (ou como fechar os olhos com esse jornalismo?)

Com uma história de hóspedes ilustres (dizem que até Nat King Cole passou por lá), conheci o Hotel Cambridge há uns dez anos por conta das inúmeras festas que aconteciam por lá. Foram noites memoráveis e divertidíssimas: dançar Xuxa e Dominó na Trash 80’s, ou me deliciar com músicas clássicas e obscuras dos anos oitenta na Autobahn, pirar com a mistureba de sonoridades da Gambiarra, ou mais recentemente ver crescer a Ursound, a festa dedicada aos ‘bears’, os gays grandes e peludos. Dançando a noite toda, não imaginava que anos depois viria me colocar bem diante do hotel. Mas meu vizinho mudou de cara e se divide agora entre bares que ainda recebem festas e uma parte do prédio que foi ocupada.

Morar no centro de São Paulo é ver uma cidade que muitos não querem ver. Há as facilidades do dia a dia, a proximidade, o acesso fácil a inúmeros locais. Mas há a história de prédios assombrados, abandonados há anos, corroídos pelo tempo e pelo desejo tão mesquinho (paulistano? brasileiro?) de especulação imobiliária que impede que os prédios tenham vida. Assim, muitos deles são como zumbis entre empresas, academias podres, lanchonetes, galerias. Abandonados. Assombrados.

Por isso mesmo, eu fiquei comovido quando a face abandonada e corroída do Cambridge me mostrou um varal com roupas coloridas. (Dias antes, havia o medo de ataques do PCC e eu e outras pessoas víamos a movimentação inicial no prédio com suspeição. Mas houve um dia em que pela janela eu vi uma camiseta vermelha e vasos de plantas nas janelas.) Havia vida nas janelas escuras. Havia cor.

Fiquei pensando nisso ontem à noite, quando uma insônia me obrigou a ver o Profissão Repórter. O programa falava de ocupações organizadas pelos movimentos dos sem-teto. Entre elas, estavam meus vizinhos do Cambridge.

Confesso que há um tempo não vejo o programa. Parece que houve uma virada bem ideológica ali no meio. Pra mim, é estranhíssimo pensar que o Caco Barcellos dali é o mesmo por trás do Rota 66. Claro, uma obra não pode definir sua trajetória (ainda que seja uma obra sobre a banalidade do mal dentro da polícia), nem o programa permitiria que se reduzissem todas as suas opiniões e ideologia. No entanto, é preciso reconhecer que momentos de iluminação e revelação surgem nos contextos mais improváveis – e foi o que aconteceu ontem com um comentário que sintetiza a arte de se fazer um jornalismo contra movimentos sociais.

profrepNum dos momentos do programa, Caco se vira para um dos repórteres-aprendiz e pergunta: “Essa é a invasora?”. O rapaz responde que esse termo não agradava a quem era daquele movimento social e que eles preferiam usar o termo “ocupante”. Caco, presunçoso, diz a pérola:

“Eles falam o que eles querem. A gente fala o que acha que é o certo”.

E o “certo” para o programa foi desmerecer a autodenominação de um participante de movimento social. O “certo” foi esconder sentidos e potencializar palavras. O certo foi sugerir a criminalização dos movimentos sem-teto. Basta ver pra perceber que todo o programa caminha nesse sentido desde o comentário de Caco.

Daí como não esquecer um momento vivenciado nas jornadas de junho: a avenida Paulista tomada e, num trecho, Caco tentando fazer sua materiazinha e sendo hostilizado aos gritos de “Ei, Globo, vai tomar no cu”?

Como não enxergar esse caminho do telejornalismo para o bom-mocismo, para a glorificação da ordem?

Como não enjoar ao compreender que a “ordem certa” apregoada é a ordem da propriedade, do cada um no seu quadrado meritocrático? E os comentários no twitter e na página do programa na deixam de ser reveladores do desejo de ordem: é só polícia que resolve (sim, a mesma “instituição democrática” que usou métodos do regime militar para matar Amarildo, viu?).

Como fechar os olhos para o Estado policial que parece se instalar aos poucos nesta cidade de onde falo?

Como esquecer o que vi ontem, no caminho pra casa: policiais tomando conta de agências bancárias (o grande patrimônio do Brasil!), policiais metendo cacete em estudantes na entrada do metrô Butantã?

Como não se admirar do fato de que imprensa e intelectualidade se acomodam em seus sofás para condenar o que chamam de “vandalismo” e para recusar pensar o significado por trás dessa atitude?

Por que até agora só vimos a condenação de black blocs e mascarados, mas nenhuma tentativa de entendimento de sua ação (que quase sempre se limita a atacar os bancos, aquela mesma instituição que está agora ganhando em cima de você e de mim e de quem está aí do seu lado)?

Como não mandar às favas quem vomita por aí o mantra de “sou a favor das manifestações mas sem vandalismo”? Como não bradar no ouvido de quem vomitou esse mantra que “manifestações pacíficas = invisibilidade + passividade”?

Como não se irritar com essa arte do conformismo, da passividade e da transformação das lutas cotidianas em banalidade?

Como fechar os olhos e dormir depois desse espetáculo?

Enojado com o jornalixo criminalizador de manifestação popular, emabço a imagem até ela sumir e faço o movimento a seguir: engulo, rumino, vomito e ressignifico:

“o jornalixo que diga o que quiser, daqui da minha janela, grito e apoio o que é certo”.

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Veja também outros textos sobre telejornalismo.

Um pé em 1977, um em 1980, os dois em 2013

Duas viagens no tempo estão me fazendo pular de 1977 a 1980 e prejudicando os compromissos deste 2013… É que não está fácil acordar cedo depois da estreia de Pecado Mortal na Record, e da reapresentação de Água Viva no canal a cabo reverenciado pelos saudosistas. Embora no começo, as duas são reveladoras de momentos distintos da TV e da telenovela.

Pecado Mortal vem pra suprir as saudades da anarquia que sempre caracterizou o trabalho de Carlos Lombardi. O texto ágil e algumas situações estão parecendo novidade pra quem estava acompanhando novelas com outro estilo, escritas por vinte mãos. A trama se passa em 1977 e combina lugares comuns de outras novelas do autor e de novelas da própria Record (está lá, por exemplo, o “núcleo conspirador” situado na favela e quase sempre deflagrador das ações). Nada que seja um demérito – mas é ponto sempre usado para quem quer atacar de antemão as produções da Record.

donana pecado mortalAliás, não há coisa mais chata nos textos da internet que encontrar oposição a qualquer tentativa de teledramaturgia fora da Globo… É irritante a forma como as pessoas assumem o modelo global, o “padrão Globo de qualidade”, como paradigma para avaliar qualquer outra produção. Falta um pouco mais de cultura do olhar, não é? Afinal, como eu já comentei aqui, a história da nossa TV não pode ser somente a história da Globo. Falo desse ponto porque vejo os telespectadores reduzindo as produções a visões pré-concebidas. Assim, qualquer moralismo é buscado em tramas da Record porque afinal ela é “a emissora do bispo”. Estranho olhar esse que escolhe ver moralismo ali e fechar os olhos para os moralismos globais (afinal, será que só eu vi o mais tosco machismos e as mais toscas representações da mulher nessa coisa também tosca chamada Amor à Vida?)…

A experiência desse começo da novela de Lombardi pode ser sintetizada numa cena simples de xaveco gay (na emissora do bispo, tá?) e que estremece meses de debates entre ‘homossexual afetado’ e ‘homossexual discreto’ de Amor à Vida:

“Calma, eu só te segui porque achei teu corpo lindo!”.

Nada como ver a tentativa de um texto mais livre e de personagens mais contraditórios, menos didáticos… E Pecado Mortal ainda tem muita coisa bacana e meu destaque vai pras mulheres de Carlos Lombardi: elas são mais livres em seus corpos, são mais verossímeis que as choronas submissas daquele retrocesso escrito pelo Walcyr Carrasco. (Em que pese aqui o caso da violência contra a mulher, foco do personagem de Daniela Galli e que merece ser debatido). Agora, a trilha disco precisa de um pouco mais de contexto: tá faltando explorar mais a onda discotéque. Claro que depois de Dancin’ Days na Globo, em 1978, a coisa aumentou, mas no Rio de Janeiro de 1977 a vida noturna estava mais agitada que a boate em que dança uma das personagens de Pecado Mortal

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Se Pecado Mortal fisga pela agilidade e texto, a Água Viva de Gilberto Braga mostra outro momento da TV e da telenovela, com cenas longas e diálogos sobre relacionamentos, dinheiro e banalidades do cotidiano. A trama de 1980 é a mãe das novelas ensolaradas que invadiram o vídeo a partir dali. É também a culpada por fazer a telenovela se fixar no microespaço da zona sul carioca (como se ele concentrasse as mais diversas caras do país…). Isso pode parecer bobo ou óbvio demais pra quem acompanha as novelas hoje, mas o fato é que essa representação, a escolha de temas, o núcleo dos grã-finos, o grupo jovem que concentra características de uma forma de se relacionar, a personagem espremida entre o mundo dos ricos e um passado de luta, assombrada pela necessidade de ascensão e de adquirir uma outra cultura – tudo isso tem uma história. Claro que não começou com Água Viva, mas se fixou ali como um ‘modelo’.

Uma evidência de que a novela instaurava uma mudança era o fato de ter substituído a trama pesada e algo fúnebre de Os Gigantes, de Lauro César Muniz. Já a abertura propunha uma ruptura, com a visão do mar e o “Menino do Rio” de Baby Consuelo – era um caminho oposto à abertura mais claustrofóbica que contrastava a visão de uma Dina Sfat exasperada com a música “Horizonte Aberto” de Sergio Mendes. Água Viva é o começo das novelas ‘feitas para darem certo’ – não tem muitas reflexões, não tem protagonistas contraditório como foi a novela anterior. Assim, ela é o primeiro passo para o domínio global que vai se estender pela década de 1980.

Quando o Canal Viva confirmou a volta de Água Viva, a decisão foi aclamada nas redes sociais pelos noveleiros e saudosos de plantão. Como tudo que é feito pela Globo, o produto vem embrulhado com a aura de ser um sucesso absoluto. Fiquei pensando nesse modo como a emissora costuma trabalhar com a afetividade em torno da TV quando me deparei com uma opinião destoante sobre a novela. Comentando-a em coluna no jornal Folha de S.Paulo, a crítica de TV Helena Silveira (que escreveu regularmente sobre televisão entre 1970 e 1984) nos dá sinais de uma outra recepção da obra de Gilberto Braga, considerando-a um “trabalho arquichinfrim, roteiro oscilante e boboca”. Para ela, que valorizava um bom texto na TV, a Água Viva era Água Morna, e a salvação da novela estava no ótimo desempenho do elenco e na onipresença do mar.

Como se vê, nada é unânime, mas o tempo (junto com o Vídeo Show e com a crítica “Bozó” de televisão) se encarrega(m) de colocar molduras em torno de tudo. Pelo menos será possível ver e tirar a prova com os pés em 2013.

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Duas novelas e uma banda

Na dimensão afetiva ou na dimensão crítica, e sem desmerecer ou excluir cada uma das pontas, Água Viva e Pecado Mortal parecem exigir engajamentos emocionais diferentes. São produto de seu tempo – uma visão de daquele Rio de Janeiro de 1980 e uma visão de 1977 toda ancorada neste 2013. Mas ambas conversam não só neste texto e na coincidência de estarem no ar no mesmo momento: as trilhas incluem música de uma banda que adoro, The Crusaders.

the crusadersEm Água Viva, a banda de Joe Sample não está na trilha oficialmente lançada pela Som Livre, mas aparece na chamada de intervalo com a faixa jazz-funk “Sweet ‘n’ Sour”, lançada no disco Free as the Wind, de 1977. Já a abertura de Pecado Mortal traz uma das músicas mais conhecidas do grupo, lançada em 1979: “Street Life”, lançada em disco homônimo. Música icônica, com o the crusaders street lifevocal de Randy Crawford, já figurou em outras trilhas televisivas (como a da minissérie Labirinto, também de Gilberto Braga) e cinematográficas (como Caçada em Atlanta e Jackie Brown). Clássica e mais classuda ainda em sua versão original de onze minutos!

Ouçam a boa trilha e curtam, cada um a seu modo, as novelas!

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Veja também Copacabana vadia (sobre dois curtas de José Joffily), “Retrato de época: Dancin’ Days fala de moda, música e noite” e outros posts sobre telenovelas.

Importação e contenção criativa

Uma das coisas mais chatas da TV atual é a profusão de programas pré-formatados e comprados de fora. Claro que quando falo “atual” não estou me referindo ao que está na programação deste ano — a coisa vem crescendo desde a década passada e é um fenômeno que mereceria ser mais bem pensado. Afinal, o que será que sobraria se tirássemos do ar os programas de calouros e os realities, que são os gêneros importados que mais ocuparam espaço e tempo na programação da TV aberta nos últimos anos?

Tempos atrás via uma entrevista do Roda Viva — no centro, estava o humorista tosco que atende por Rafinha Bastos, aquele que acha que faz piadas originais e inteligentes. Silvia Poppovic estava entre os entrevistadores e lembro de ela lançar uma provocação ao perguntar por que o humorista “tão original” se contentava em trabalhar num programa de formato importado (acho que ela se referia ao Saturday Night Live — perdoem minha ignorância em termos de Rede TV! e no que concerne ao tal “humorista”). Não lembro da resposta do inteligente em questão, mas acho que a provocação poderia ser estendida a muita gente.

Lembrei dessas coisas todas ao passar pelo CQC dia desses e desistir de assistir. Optei por resgatar uma gravação antiga e ver um programa dos mais interessantes já produzidos para nossa TV — e que também tinha por trás a cuca/careca brilhante/brilhosa do Marcelo Tas. Trata-se de A Retrospectiva do Ano 1988/1958, levada ao ar pela Record em 28 de dezembro de 1988.
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O tempo condensado que caracteriza esses balanços televisivos de fim de ano dão o tom dessa “resenha ilustrada”. No entanto, aqui, as imagens que vão compor o mosaico dos acontecimentos principais do ano são do fim dos anos 50 e começo dos anos 60.
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O resultado na tela é uma amostra de como o Brasil enfrentava há quarenta anos os mesmos problemas (imigração, desigualdade, problemas ambientais, etc.). [Os noveleiros que se dedicarem a ver o programa vão se deliciar com o trecho em que se faz referência a uma novela famosa naquele ano…] Mas a Retrospectiva é, também, uma aula sobre gêneros e formatos televisivos na medida em que põe em evidência o modo “espetacular” de organizar as notícias nesse tipo de programa. Basta comparar com a retrospectiva de 1988 feita pela Globo e que também disponibilizei no meu canal).
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Quem vê esse programa hoje e vê Marcelo Tas à frente do CQC só poderia pensar em contenção criativa imposta por aquela bancada. Não sou telespectador assíduo nem conheço o CQC original estrangeiro e apesar de reconhecer na versão brasileira muitas características de coisas que Tas fez anteriormente, me pergunto qual o sentido de estar por trás de um programa pré-formatado. Qual a vantagem pra nossa TV em não desenvolver um programa e se limitar a comprar um formato? Business apenas?
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Na entrevista do Roda Viva, a Poppovic falou “sou de uma época em que a gente criava um formato e não importava um”. Quando tento me livrar do afeto e do saudosismo pra me fixar na atual TV aberta não há como não considerar essa diferença…
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Não se trata de um debate novo, afinal, a oposição “enlatado versus nacional” dominou a crítica de TV dos anos 70. E não se trata de olhar e considerar o estrangeiro ruim (basta considerar a qualidade das produções de teledramaturgia estrangeiras). Trata-se de recolocar a questão em outros termos: o quanto essa importação não afeta a criação na TV e nos dá aquela sensação de tédio e mesmice? Nesse sentido, nada melhor que ver TV com um olhar no presente e outro no passado.
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Veja também “Nossa sexagenária TV” e outras reflexões sobre TV já publicadas no blog.
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Nossa sexagenária TV

Nossa televisão faz hoje 63 anos!

Talvez nenhum outro país tenha tido uma história da TV como a nossa. Ou quem sabe eu esteja exagerando seu papel só para me permitir essa aproximação – pretensiosa – e notar que até hoje não se pensou no sentido cultural desse veículo para nosso país.

Não falo da TV como meio educacional, nem como veículo manipulador de consciências (embora essas dimensões não precisem ser desconsideradas). Mas retomo essa dualidade para ilustrar como as discussões são marcadas, polarizadas. Em alguns estudos, predomina o tom socializante demais, o que aponta a TV como o monstro doméstico que conviveu e influenciou (quase sempre para o mal) algumas gerações. É esse o tom que negligencia muitas vezes a dimensão criativa da nossa TV, porque olha pra ela apenas como um mecanismo de dominação, incapaz de em um momento ou outro propiciar uma experiência estética. De outro lado, e especialmente nesses anos de internet, o tom memorialístico virou um modo dominante de falar da TV – algo alimentado pelo próprio veículo que parece viver hoje a consciência de seu passado.

É: a TV descobriu que tem uma história. Mas essa é uma história bem fragmentada e pouco documentada. De seus 63 anos, pelo menos 13 foram marcados pela TV ao vivo (só em 1963 surge a possibilidade de gravação dos programas). Desse período, a ideia construída é de uma TV de “alto nível de programação”, com teleteatro, ópera e tudo o que costuma ser generalizadamente incluído sob o rótulo de ‘elitista’. Veículo de elite a TV foi durante muito tempo (no começo dos anos 1970, por exemplo, um televisor em cores custava mais de vinte salários mínimos!), mas será que esses anos iniciais da TV podem ser caracterizados apenas com base nos gêneros veiculados? Será que podem ser reduzidos apenas ao referido rótulo?

Do período efetivamente gravado, só um pouco sobrou. Há histórias que não conhecemos: TV Rio? Excelsior? Onde estão as imagens veiculadas por essas emissoras que também ajudaram a moldar uma cultura televisual/televisiva no nosso país? Elas se embaralham na cabeça de produtores, artistas, se misturam a memórias pessoais. E nada mais estranho pra quem quer contar ou conhecer a história da TV que ter de recorrer a palavras e não a imagens. As histórias da Tupi e da Manchete vão seguindo guardadas em caixas e caixas (em que pese o esforço da Cinemateca em divulgar um pouco do acervo da emissora de Chateaubriand). Sobre a Record, por exemplo, parece prevalecer aquele véu de emissora religiosa – como se sua história se limitasse ao período de administração pela igreja de Edir Macedo… Taí uma história que pouca gente conhece. Como pouco se sabe das histórias de outras emissoras (Cultura, Band, Gazeta e mesmo SBT). Quantas delas não ficaram reféns do padrão ‘Globo’ e foram desmerecidas em suas jornadas?

Pensar o papel da TV na cultura pressupõe considerar a abrangência, as diversidades, as divergências, as disparidades entre emissoras. Além disso, é fundamental olhar para a dimensão criativa e para as possibilidades de experiências estéticas que também podem se dar nesse espaço. Obviamente, é difícil seguir por um caminho que exige uma abordagem mais ampla, menos unilateral. Mas creio que só com essa disposição para enxergar as imagens (de baixa resolução!) das nossas várias emissoras, só com a disposição para vê-las e estabelecer diálogos e conexões menos passionais a partir delas, é que conseguiremos traçar um painel da TV na cultura brasileira na segunda metade do século XX. Uma história cultural da televisão brasileira é tarefa nada fácil, bem pretensiosa. Mas quem sabe um dia chegamos lá?

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"Entrando no ar pela TV Tupi, Canal 6, Rio de Janeiro"

“Pepa entrando no ar pela TV Tupi, Canal 6, Rio de Janeiro”

Aproveito o post para dar os parabéns à virginiana sexagenária, a todos que a fizeram e a fazem existir (e resistir apesar dos padrões, das limitações, dos moralismos etc.).

E, claro, a todos que se propõem a pensar nossa pequena esfinge doméstica!

 

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Veja também outros textos de história da tv publicados aqui no blog.

Copacabana vadia

Tenho tido pouco tempo para atualizar o blog com as minhas reflexões efêmeras. Na verdade, acho que elas têm sido tão mais efêmeras que não duram aquele espaço de tempo entre o instante em que ocorrem e o instante em que decido fixá-las aqui. Um dos problemas é que eu não tenho cumprido com o que desejava fazer: pequenos ensaios sobre coisas de TV do passado e do presente que vou vendo e revendo por aí. Acrescente a isso o fato de que ando com birra de alguns programas que estão no ar. Onde estão as manifestações pacíficas contra esse marasmo televisivo e cinematográfico? Quero vandalismo diante disso tudo. Uma revoluçãozinha imagética, por favor!

Você liga na Globo, por exemplo, e lá estão os mesmos atores a fingirem uma dedicação a personagens tão pouco interessantes… Dos programas de teledramaturgia no ar atualmente, não vejo nada que possa me divertir descomprometidamente. Pra ficarmos nos casos de mais audiência, Amor à Vida e Saramandaia me dão nos nervos com seus roteiros inócuos e aquelas caras de atores higienizados. É tanta higiene que me dá alergia. No telejornalismo, só aberrações cognitivas. E cadê pauta pro meu bloguinho com isso tudo?

O bom é que posso me dedicar a coisas outras (como os debates na revista Geni – vocês estão acompanhando?) e à descoberta de umas boas produções esquecidas. Por isso, vim aqui recomendar dois curtas que vi recentemente e que são ótimos: Curta sequência: Galeria Alaska e Copa Mixta.

Ambos foram dirigidos por José Joffily e mostram o bairro de Copacabana num misto de documentário e ficção, com depoimentos de transeuntes, entrechos ficcionais e imagens daquele cotidiano do fim dos 1970 e começo dos anos 1980 – época em que a fé numa “abertura política”, num desejo de andar adiante se contrastava com o discurso conservador do cidadão comum capturado nas duas produções.

copa mixtaEm Copa Mixta, Charles (nome importante do grupo que ficou conhecido como “poetas marginais”), se põe num andaime a bagunçar com palavras o cotidiano do bairro perdido entre conservadorismo e modernidade. De um lado o “pessoal da praia”, de outro o discurso a condenar os hábitos modernosos (ai, a maconha…) e a solicitar maior policiamento… Impossível não lembrar dos dramas que compuseram Dancin’ Days, que tão bem retratou essa convivência entre costumes díspares. Confusão que pode ser sintetizada na fala de um dos entrevistados: “Isso aqui é o certo. Mas tá errado. Mas eles acham que é certo”.

Curta sequência: Galeria Alaska se contrapõe ao primeiro curta ao acompanhar um pouco da noite no point que reunia a boemia, a diversidade sexual e alguns artistas da época. A Galeria Alaska devia horrorizar a família carioca com seus shows e público gay. Ao que parece, sobre ela, caiu um véu de decadência convenientemente colocado durante a década de 1980. No curta de Joffily, os grandes atores Paulão Barbosa e Anselmo Vasconcelos (duas figuras fantásticas e que infelizmente foram tão pouco aproveitadas pela nossa TV…), dão o start pra o que seria, segundo uma voz em off, “Uma reportagem sobre Copacabana”. Rapazes, travestis e pivetes que faziam a fama do local vão surgindo e falando o que lhe dão na telha (aliás, atenção à fala do garoto engraxate, reveladora das contradições de nossa desigualdade…). O que será que se revela e se oculta nessas falas tão diferentes?galeria alaska 1

Nos dois curtas, dois instantes muito bacanas de um bairro e de um momento que ficou no imaginário. É terminar de ver e cantarolar “Copacabana Sadia”, música de Júnior Mendes com aqueles arranjos pós-disco de Lincoln Olivetti, e o desejo de andar no calçadão – mas, claro, naquele início de anos 80…

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Veja também “Carta a Júlia Mattos, de Dancin’ Days”

Saramandaia e o imaginário ‘globístico’

Vendo a estreia de Saramandaia ontem não pude não pensar na Globo como uma das personagens que frequentam muitas de suas novelas: a distinta senhora de classe alta com popularidade baixa e sobrevivendo do insigne sobrenome…

Claro, a Globo não está tão capenga assim – vide o espetáculo que ela conseguiu fazer com as manifestações que tomaram o país nas últimas semanas. Pra todos que falavam do poder das redes sociais, o gigante que acordou foi essa velha mídia. Mas, falemos de amenidades. Ou não.

Saramandaia começou com capítulo fraco, sem ritmo e com intertextualidades e autorreferências dignas de um roteiro do Vídeo Show (não, não é um elogio…) As paródias e menções à realidade pareciam tão milimetricamente calculadas que só causaram um estranho sorriso amarelo de tão infantis. Pareciam não caber na face pública do elenco tão lavrado nos comerciais, nas produções insípidas das tardes de todo dia da emissora. Culpa de quem? Se uma empresa impede artistas de se colocarem politicamente, torna-os meros cabides para personagens estéreis, o resultado é este: não convencem quando entram numa obra que tenta tocar o aspecto político. Assim, me parece que “muita tecnologia e pouca saúde mental os males dessa novela são”.

Causou estranhamento em muita gente o fato de Saramandaia dialogar tão claramente com a realidade brasileira dos últimos dias. Mas, ora, a Globo só fez uso de um imaginário todo próprio do Brasil… Se insistiu, na sua cobertura das manifestações, focalizar caras pintadas, bandeiras do Brasil, gente de branco, foi uma escolha editorial, não? Se escolheu esta obra para ir ao ar (sim, meses atrás, claro) é porque sabia de seu potencial político (ainda que minimizado por Ricardo Linhares). (Não vamos falar em teorias da conspiração, né? É termo tão cafona… Usado principalmente por quem não quer reconhecer ideologias…). Se insiste nas referências a si própria, é porque imagina que seu imaginário político do país cabe em todos os momentos da história…

saramandaia-leandra-leal-2b.jpgQue não me venham falar em coincidências! Afinal, o texto original é de um Dias Gomes – pra quem não havia coincidência, mas sim um projeto intelectual, literário e político. Sim! Quer desmerecimento maior a esse autor que desconsiderar essa dimensão de sua obra? Li uma crítica da Uol em que se dizia que a novela não teria “pretensões políticas”, mas pretendia tratar de um problema atual como a “intolerância à diversidade”. Ora, ou o autor não sabe o que é política ou não sabe o que é política… E assim vai ficando a crítica tão infantilizada quanto as produções atuais…  (Aliás, comentando sobre esse tom didático e infantil das novelas atuais, um amigo disse: “talvez queiram competir com Carrossel!”).

Recuperar Dias Gomes me parece significativo do lugar e do contexto atual da Globo. Embora cause rubor na minha face ver Leandra Leal fazendo paródia sem graça (“Nunca, na história dessa cidade, houve governo tão corrupto!” – e ainda tem gente que acha que a novela não tem pretensão política? Oi?), não vou desmerecer Ricardo Linhares. Ele é um autor distante da figura do autor que predominava, por exemplo, nos anos 1970 na Globo. Não dá mesmo para comparar uma relativa autonomia de criação de Dias Gomes com a estrutura engessada de produção na Globo atual. Por isso, ele parece ser um autor errado para uma história que estava mais verossímil no universo particular do autor. (E antes que me acusem de purista, não creio que as obras sejam intocáveis – esta postura diz respeito a uma obra específica, de um autor específico, dentro de um imaginário específico da TV e do país). Assim, recuperar a obra de Dias Gomes parece significar:

1. Incapacidade da rede Globo de dar conta da produção de conteúdo de teledramaturgia dentro da sua estrutura industrial e sua postura adotada da última década pra cá. Assim, o remake é a coisa mais fácil, pois brinca com o imaginário e a cultura televisiva.

2. Incapacidade dos escritores de saírem da zona da “angústia da influência” e enfrentarem a estrutura industrial propondo obras realmente autorais. (Com dez pessoas escrevendo uma novela falta mesmo uma unidade – que bem ou mal é o que se vê hoje nas novelas da emissora reapresentadas pelo Viva).

Por fim, outro ponto que compromete um engajamento emocional com as produções atuais e que já pode ser notado em Saramandaia, diz respeito essa “padronização globística”. Tudo fica excessivamente didático e insípido. Vide esse Brasil branco que se insiste em pintar na tela da Globo (onde estão os negros desse país inventado?, não me cansarei de perguntar). Sim, isso não é novidade, mas depois da Gabriela higienizada, com dentes branquíssimos contrastando com a pele suja de poeira do sertão, fica difícil não se irritar com esse aspecto… Enfim, com um olho na tela e outro no real, vamos ver aonde vai dar essa seara iniciada ontem.

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Veja também dois posts sobre o universo de Dias Gomes: É o mito, estúpido! Cultura pra comer e pra vomitar.

O telejornalismo pelo bom-mocismo

Quem acompanha o telejornalismo diariamente e reflete sobre ele, sabe que tem um prato cheio de reacionarismo, uma verdadeira aula de democracia às avessas. E minha pergunta é: onde está o pensamento sobre o modo como a TV se posiciona diante das manifestações que irromperam pelo Brasil nas últimas semanas?[1] Vinha pensando nisso e juntando algumas observações até que o dia de ontem me trouxe uma sensação de medo. Paulo Motoryn em texto na revista Vaidapé apontou algo que de certa forma está por trás da mobilização deste post: “Quando um veículo que representa o que há de mais reacionário na sociedade apoia movimentos sociais, há no mínimo um ponto de extrema relevância para refletir.” E só é possível refletir quando se reconhecem caminhos, rupturas e mudanças nos discursos.

batman acordou

Falo de São Paulo e mais especificamente do centro, onde moro e onde a coisa tem pegado fogo. Se num primeiro momento fui entusiasta da movimentação iniciada pelo Movimento Passe Livre, hoje estou confuso diante de um movimento mostrado como bom-mocismo, devidamente moralizado e higienizado – e com ideias vagas que dão brecha a uma apropriação dos discursos por quem pouco se interessou até agora por algumas das questões políticas e sociais do país. Fico com o poeta Carlito Azevedo na ideia de que “Quem não está confuso, não está bem informado”. Da minha parte, que tenho acompanhado in loco e pela mídia as manifestações, convivem a confusão, o esforço de compreensão e um toque de paranoia diante do que ocorreu neste Outono de 2013.

Admitamos: a confusão de discursos, opiniões, chorumelas, brados em capslock nas redes sociais embora tomem conta do nosso dia, não substituiu ainda a força das imagens televisivas das manifestações. Se se pensasse nosso telejornalismo bem ruim de todo dia, talvez ficasse mais clara a mudança brusca de postura dos veículos diante das manifestações iniciadas com o objetivo de revogar o aumento da tarifa dos transportes. (Por outro lado, é de se considerar que a própria qualidade alcançada por esse nosso medíocre telejornalismo tenha resultado em nenhuma audiência por parte de quem recebe para criticar a TV…).

Venho acompanhando a cobertura de alguns telejornais desde o começo dos primeiros protestos do Movimento Passe Livre em São Paulo. E não há como não se espantar com a mudança de postura de jornais e jornalistas – que trocaram de lado e de opinião como quem pega uma gravata de outra cor. Assim, se inicialmente as ruas das cidades estavam tomadas por “vândalos” e “arruaceiros”, por alguma razão (mágica?), esses mesmos arruaceiros passaram a ser chamados de… manifestantes. E com demanda legítima! A coisa começou a mudar a partir do protesto do dia 13/6 e não vi por aí nenhum crítico falar de como o assunto foi mostrado até agora pela TV. Por isso, gostaria de usar este post pra fixar e comentar alguns dos flashes da cobertura que acompanhei nos últimos dias. (A intenção não é fazer uma hermenêutica e desvendar manipulações e discursos golpistas – é fixar uma confusão nos discursos, que acho que muita gente não percebeu. Sim, pode ser banal; mas o que pode haver por trás da banalidade?).

Band

Na emissora – na qual, num link ouviu-se a seguinte pérola “A gente vê aí os policiais se defendendo” –, a primeira máscara a cair foi de Datena. No programa do dia 13, ele pouco ligou para o fato de manipular ao vivo uma enquete, trocando a pergunta “Você é a favor deste tipo de protestos” por uma mais retórica: ”Você é a favor de protestos com baderna?”. Nem a mudança fez com que vencesse o não. O resultado apareceu ao vivo. Desconcertado, o apresentador mudou o tom: “Já deu pra sentir. O povo está tão P da vida com o aumento que apoia qualquer tipo de protesto”. O discurso posterior, pasmem!, foi pleno de elogios: “a manifestação está pacífica e organizada. Deve ter político com medo diante disso…”

(Foi nesse momento que senti uma primeira pontinha daquele sentimento que acometeu Regina Duarte.)

Record

Enquanto isso, no mesmo dia, na Record, Marcelo Rezende e sua Cidade Alerta era todo gozo diante da atuação da polícia… Momentos antes, na concentração diante do Teatro Municipal, quando diversos repórteres buscavam suas fontes, presenciei um repórter da Record numa ação muito comum em cobertura de qualquer ato de movimentos sociais: ele deu as costas à multidão que se aglomerava, passou diante de um ônibus cheio e foi entrevistar… um motorista revoltado com trânsito, impossibilitado de vivenciar o seu belo direito de ir e vir (de carro) pela cidade.

Na manhã do dia 20, na Record News, uma reportagem mostrava brasileiros no exterior pedindo o fim da corrupção e dizendo “É isso aí. Fora Dilma”.

No Jornal da Record, se o clima inicial era de condenação aos movimentos, com a apresentadora quase em pânico, na noite de ontem (20), o que se via era empolgação mais que evidente diante de algo vendido como festa…

Gazeta

No Jornal da Gazeta, como em outros telejornais, a cobertura das primeiras manifestações enfatizou o que chamaram de vandalismo e depredação. No dia 12, chamou a atenção o comentário crítico de Bob Fernandes, levando ao ar uma opinião diferente da linha editorial do jornal e observando as manifestações pelo viés que deveria ter sido mobilizado desde o inicio: “Com erros e com acertos, é a Política”. No dia 13, uma repórter com voz trêmula cobria o protesto ao vivo, enquanto a âncora do telejornal destacava o trânsito e, da bancada, pedia que a população evitasse a região: “Muita destruição no centro de São Paulo. Que a população não vá ao centro da cidade“.

Já na edição do dia 18, o tom foi bem diferente, mais propenso a acreditar na movimentação que havia levado uma multidão às principais ruas da cidade no dia 17. Focalizaram os manifestantes tomando a avenida Paulista, embora não tenham mostrado um outro liderado pelos ativistas do MPL indo para o Terminal Parque D. Pedro II. A todo momento, frisavam ser aquela uma “manifestação pacífica” – o binômio mais utilizado pelo jornalismo nos últimos anos.

SBT

Por uma razão de saúde mental, procuro não assistir ao Jornal do SBT com a musa reacinha Rachel Sheherazade, mas me forcei a ouvir um pouco do chorume destilado por ela a respeito das manifestações. Comentando o assunto no dia 12, a apresentadora criticou a proposta do MPL, considerando inviável a gratuidade do transporte, que resultaria num aumento de impostos… Lembrando ninguém menos que o economista Milton Friedman (diga-se, amiguinho de Augusto Pinochet e Ronald Reagan, teórico por trás das ideias que geraram esta nossa crise econômica mundial…) quis fechar com a frase de efeito “Será que eles [os manifestantes] não sabem que não existe almoço grátis?”.

Interessante observar que no site do SBT, os comentários posteriores ao dia 17 vão contra a postura da jornalista.

Já no comentário do dia 18, a postura foi diferente: “No calor de tantos anseios, a questão das passagens virou uma questiúncula. Emergiram revoltas mais profundas e até mais legítimas. As gentes agora marchavam contra a violência, a corrupção, as injustiças, o sistema, o desperdício de dinheiro público nos estádios da Copa. Apesar do oportunismo de algumas bandeiras de extrema esquerda, surgiram bandeiras apartidárias que diziam ‘Está tudo errado!’. E está mesmo! A revolta que parou o Brasil de norte a sul é um recado claro aos poderosos que governam o país. Que dela se lembrem os governáveis, os presidenciáveis… Lembrem-se do poder das massas.”

Interessante notar a mudança de termos: antes eram “jovens, rebeldes”; depois esse sujeito passou a ser chamado de “as massas”.

Cultura

Acompanhando o Jornal da Cultura, com tudo que tem de bom e de ruim na sua bancada “democrática”, houve um esforço enorme para se entender o significado dos protestos. A estrutura do telejornal, com convidados comentando, pode, à primeira vista, representar um ganho. No entanto, a obrigatoriedade de comentar cada matéria faz desse telejornal, em muitos momentos, um espaço como aquele dos comentários em portais – não é raro que diante de um desacordo, venha a âncora D. Maria Cristina Poli finalizar uma discussão.

Poli tem uma dificuldade imensa de esconder sua rejeição a qualquer movimento. Repudiou o caso do autoritarismo policial na USP (e olha quanto de saliva e paciência não teve com ela o Vladimir Safatle…), desconsiderando a mobilização dos estudantes, mas se sensibilizou com a fala de um inglês em 2011 (à época de protestos que tomaram Londres e arredores) que também reclamou do autoritarismo… E é este tipo de postura que ainda predomina no jornal: fora do Brasil há manifestações; no país, baderna e vandalismo.

No dia 7, a bancada recebeu Carlos Novaes e Luiz Felipe Pondé, num embate que valeria a pena todos assistirem. Pondé se colocou radicalmente contra uma manifestação, desvirtuando e criando uma noção muito própria de democracia… A fala de Novaes, desvelando a linha editorial do jornal, ao vivo, já é pra mim um momento histórico – especialmente se se considerar que, na mesma emissora, no TV Folha do dia 16, a postura do “filósofo do contra” (Pondé) foi outra.

Durante esta semana, a linha editorial foi se filiando ao que ocorreu em outros telejornais: “demanda legítima da população” + “movimento pacífico” + “porém com casos isolados de vandalismo” [fato também comentado por Novaes nesta edição aqui]. Na segunda, o Roda Viva abriu espaço, numa cova de leões, para integrantes do Movimento Passe Livre. Na terça, dia 18, até no Cartão Verde se discutiu o assunto, considerando o momento esportivo. No Jornal da Cultura do dia 19, a câmera focalizava uma pessoa com uma placa que dizia “Dois partidos são suficientes para o Brasil”.

Egraçado é que a Cultura, que já foi tão ligada em história não se preocupou em historicizar a questão – ninguém pareceu lembrar da repressão da ditadura contra o Movimento pelo Custo de Vida, por exemplo, que daria uma boa pauta…

custo de vida

Globo

Enquanto eu me punha a pensar este post ontem, a Globo interrompeu sua programação novelística e passou a cobrir as manifestações pelo país num Jornal Nacional com três horas de duração, dedicado a apontar “a beleza dos movimentos”.

Num esforço de estabelecer um lugar de fala, nos últimos dias a emissora faz questão de frisar que os movimentos são pacíficos e que apenas um grupo pequeno é mais radical e incorre em vandalismo. Na tela, imagens aéreas dominam – fixando a versão imagética das “massas” da fala de Rachel Sheherazade – quando há imagens do povo, dominam pessoas de branco, cantando o hino nacional, de caras pintadas e com bandeira brasileira nas costas. Ora, se se disse até agora que o movimento é plural, reivindica diversas coisas diferentes, por que mostrar só uma versão dos manifestantes?

A cobertura da Globo já me chamava a atenção desde as primeiras reações de Rodrigo Bocardi no Bom Dia São Paulo. Espécie de Rachel Sheherazade da Globo, desde que assumiu o comando do jornal, evidenciou um discurso simplista diante de qualquer fato – usando o papel de âncora para condenar, num tom que se investe de aparência de inteligência e crítica. O que não se falou por aí ainda foi a incoerência entre o início das manifestações e um projeto que trouxe para o jornal: o “Anda SP”. Irônico que um projeto de reportagens sobre a mobilidade em São Paulo não tenha considerado o movimento que questionava justamente… as formas e preços da mobilidade na cidade! Para o jornalista, os participantes se reduziam a vândalos, usavam “frases ameaçadoras como ‘Todo aumento é uma injustiça’ e ‘Se a tarifa não baixar a cidade vai parar’”. Nas primeiras matérias, ficava clara a visão negativa da participação de partidos de esquerda nas manifestações – todas frisavam essa participação. Na edição do dia 7 ele soltou uma pérola do exercício de compreensão do movimento: “Alguns deles não têm R$ 3,20 ou 20 centavos a mais para pagar a passagem de ônibus, mas têm R$ 3 mil para pagar a fiança”. Outro ponto que salta aos olhos nessa cobertura inicial da Globo é que em nenhum momento apareceu uma instituição importante na discussão toda: as empresas de transporte…

Entre 13 e 14, a Globo anoiteceu falando em vandalismo e amanheceu falando em repressão e brutalidade policial? Os dias que se seguiram pareceram uma espécie de pesadelo gestado no telejornalismo global: foi Arnaldo Jabor dizendo que havia entendido errado o movimento, foi Alexandre Garcia falando em grande marcha “contra a corrupção”, foi Caco Barcellos mostrando gente com bandeira e cara pintada bradando “a gente tem que fazer alguma coisa. Já chega, cansamos” e finalizando o programa com o hino nacional… (Amaral Netto, é você?).

Aliás, quando um programa como o Profissão Repórter vai pesquisar sobre “kit manifestação”, fica uma dúvida se se trata de uma crítica ao tratamento dos protestos como se fossem raves ou micaretas. Ou se se trata de uma postura séria – afinal, é o mesmo que considerar a atitude violenta da polícia como inexorável, não?. Não dá para se desconsiderar que na semana anterior, no mesmo programa, a questão do transporte foi trabalhada no aspecto pessoal e moral – falava-se de “a tensão diária dos passageiros” a partir do atritos entre usuários e motoristas, focando, por exemplo, a raiva dos passageiros contra motoristas que namoram ‘periguetes’ no ponto final…

Enquanto estava finalizando essas anotações esparsas, recuperei dois flashes da manhã: Ana Maria Braga apontando para como essas manifestações estão “mexendo com a vida familiar”. Sandra Annenberg num Globo Notícia e César Tralli no SPTV repetindo o mantra de que o que se vê são “manifestações legítimas” que devem ser “sem baderna”. Vão ficando pra trás os lugares-comuns dos últimos dias (“praça de guerra”, “quebra-quebra”, “rastros de destruição”) e surgindo na tela uma revolução higienizada, sem partidos, sem violência, sem vandalismo (deliciosa como suco Clight de pera?).

Depois da lucianohuckização dos protestos, qual será o próximo passo? Claro, transformar o melodrama da realidade em telenovela: Keila Jimenez noticiou a possibilidade de as manifestações integrarem o enredo de Amor à Vida. Para quem já faz matérias com uma estrutura melodramática, em que sempre se tem o lado bom e o lado mau e se evitam os tons entre um lado e outro, isso não será difícil…


[1] Atualizando em 24/06: Depois de postar o link deste post no Facebook, uma amiga me indicou o ótimo texto “Técnicas para a fabricação de um novo engodo, quando o antigo pifa“, de Silvia Viana no Le Monde Diplomatique. Recomendo muito a leitura, pois aprofunda bem as questões que tentei suscitar aqui!

+ MAIS +

Veja também outros textos sobre telejornalismo.

Ressurgindo no sistema

Ando metido em mil outras coisas que me impossibilitaram de sentar e escrever sobre tantos assuntos que gostaria de ter refletido aqui neste espaço. Como meu desejo é oferecer uma reflexão e não só fragmentos ou coletânea de ideias outras, produzir o conteúdo pra cá acabou ficando sempre para depois.

Entre as diversas outras atividades, estou atarefado com minhas pesquisas do mestrado em Estudos Culturais e ainda metido num projeto que me deixa muito feliz: a criação de uma revista virtual sobre gênero, sexualidade e coisas afins. Gostaria de convidá-los a conhecer a revista Geni:

Revista Geni

Assim, enquanto eu não retomo as minhas reflexões aqui, convido a todos a conhecerem a revista e darem uma olhadinha nas minhas duas colaborações para o número zero da revista.
Há lá um texto sobre o jornal Lampião da Esquina (um marco na imprensa alternativa durante a abertura política), além de uma entrevista com a fantástica Claudia Celeste, primeira atriz travesti a fazer uma novela inteira (Olho por Olho, na rede Manchete em 1988). Abaixo um teaser da revista com Claudia cantarolando: